17 setembro 2024
Sob o tema #TheFutureOfReading, a segunda edição do debate sobre o futuro dos livros reforçou, ao longo de dois dias, a sua missão de promover os índices de leitura, da literacia e da educação em Portugal. Destacamos alguns dos momentos-chave e conclusões mais relevantes do segundo dia desta iniciativa da APEL.
Os atuais desafios do livro e da leitura em Portugal estiveram em debate durante a gravação em direto do podcast “Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer”. Mediado por Carlos Vaz Marques, João Miguel Tavares, Ricardo Araújo Pereira, e o convidado Pedro Mexia concordaram no perigo da crescente invisibilidade da cultura (e dos livros) nos meios de comunicação, sobretudo nos jornais, pelo desaparecimento de suplementos literários, causada por falta de investimento e de visão. A escassez de boas livrarias em Portugal, o importante trabalho de aconselhamento do livreiro, insubstituível para a fidelização do cliente pelas suas recomendações criteriosas, e ainda a importância dos alfarrabistas na conservação da memória literária de um país foram alguns dos tópicos debatidos. João Miguel Tavares alertou ainda para a realidade das escolas e o papel relevante que ocupam na promoção de hábitos de leitura entre os alunos, enquanto Pedro Mexia falou da importância da intervenção do poder político no acesso à leitura, em linha com a intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa na sessão de encerramento do primeiro dia de trabalhos.
Na sessão «Educação Empresarial Responsável como a Nova Norma», assistimos a uma conversa central entre dois grandes profissionais do panorama editorial internacional, Bob Miller (EUA) e John Tørres Thuv (Noruega). Os intervenientes apresentaram cenários muito diferenciados dos seus respetivos países: na Noruega houve uma desmaterialização e consequente transferência de formato, do papel para o audiolivro, correspondente a 60% das vendas totais, face a uma caída dramática do formato em papel, na ordem dos 40%, nos últimos anos. A digitalização excessiva que ocorreu na Escandinávia, nas últimas décadas, está a levar à perda de capacidade de leitura por parte das crianças e, como medida de combate, os governos estão a tornar o livro acessível, por meio das bibliotecas locais, às regiões mais isoladas. O antigo Presidente e Editor da Flatiron Books apresentou o cenário americano: 75% dos livros são lidos em papel, contrariando as previsões catastrofistas de que o aparecimento do ebook ditaria o fim dos livros neste suporte e, simultaneamente, o fim da edição. O formato digital representa 25% das vendas, divididas equitativamente entre os suportes ebook e audiolivro. Miller aconselhou os profissionais do setor editorial a serem experimentais e a não temerem a inovação e a mudança. Deixou a recomendação de se investir em edições premium, mais cuidadas e colecionáveis, como forma de competir com o formato digital e os preços baixos praticados, que representam uma desvalorização do livro e, consequentemente, um menor rendimento para o autor.
A relevância dos temas trazidos a debate nesta segunda edição do Book 2.0 é inquestionável e as suas principais conclusões trarão, certamente, momentos de reflexão a todos os profissionais do setor da edição.
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