Acesso rápido

04 fevereiro 2025

João Pinto Coelho reflete sobre Dia Internacional da Memória do Holocausto

Na semana em que se assinala o 80.º aniversário da libertação dos prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, convidámos João Pinto Coelho a refletir sobre esta data histórica, que nos convoca a recordar a tragédia que assolou a Europa durante a Segunda Guerra Mundial.

João Pinto Coelho, nascido em Londres em 1967, dedicou mais de três décadas à investigação do Holocausto, colaborando com historiadores e sobreviventes ao genocídio nos antigos campos de concentração de Auschwitz.

Em 2015 estreia-se como romancista, com o livro Perguntem a Sarah Gross, obra finalista do prémio LeYa em 2014, que tem Auschwitz como cenário. Em 2017 vence o Prémio LeYa com a obra Os Loucos da Rua Mazur, romance onde o autor regressa à Polónia da Segunda Guerra Mundial. Termina a sua trilogia sobre a Shoah em 2020, com a publicação do romance Um Tempo a Fingir, obra passada em Itália durante a Segunda Guerra Mundial, finalista do Prémio da União Europeia para a Literatura.

 

Qual considera ser o principal legado da libertação de Auschwitz para as gerações atuais, especialmente no que diz respeito à preservação da memória histórica?

A dúvida. Esse é o grande legado. A imensa coleção de perguntas que sucedem a Auschwitz e a falta de respostas, passados 80 anos. Porque aconteceu? Como foi possível? Ou a mais terrível de todas: o que é que eu faria em circunstâncias idênticas às vividas pelos perpetradores. A dúvida - essa especulação com que questionamos o nosso próprio caráter - é a resposta mais lúcida que Auschwitz nos devolve.

 

De que forma as histórias dos sobreviventes e das testemunhas têm influenciado a maneira como as novas gerações compreendem a importância da luta contra o antissemitismo e o preconceito?

 A história oral do Holocausto e a ficção dão um rosto à tragédia, humanizam-na. Uma e outra contribuem para colocar o Homem no centro da narrativa, uma imposição que, por vezes, se perde nos manuais ou nos livros académicos. Apresentar a Shoah como uma realização humana será sempre o princípio da compreensão, até de nós mesmos.

 

Acredita que a educação sobre o Holocausto pode ajudar a evitar que atrocidades semelhantes aconteçam no futuro, e qual o papel da literatura nesse processo?

Sou cético quanto ao papel da Educação e da Literatura na prevenção de tragédias semelhantes. Promovem, seguramente, o exercício das consciências e, nesse sentido, são insubstituíveis. Infelizmente, como dizia Primo Levi, basta ter acontecido para sabermos que pode repetir-se. O Homem de então é, ainda, o Homem de hoje; se a Educação e os livros nos alertarem para as circunstâncias, podemos, ao menos, olhar para a evolução dos tempos com as cautelas que nos escaparam há 80 anos.

 

Tenciona regressar a Auschwitz e ao Holocausto, que ocupam parte central da sua obra, ou para si, do ponto de vista literário, o tema está encerrado?

Estará encerrado quando encontrar as respostas que me faltam. Não tenho essa perspetiva, daí ter a certeza de que voltarei à Polónia e aos campos de extermínio nalgum dos meus próximos livros.

Notícias

21 março 2025

A Livraria Buchholz assinala o 10.º aniversário da morte de Herberto Helder com a exposição "1.ª Edição – Uma Autobibliografia", um evento...

21 março 2025

A escritora Lídia Jorge voltou a ver reconhecida a importância e o significado da sua obra, em Portugal mas não só, ao ser distinguida com a mais alta...

21 março 2025

Já não há margem para dúvidas: Astérix, Obélix (e Ideiafix!) têm os pés bem assentes numa calçada portuguesa!

21 março 2025

A Escola Amiga da Criança assinala o Dia Mundial da Poesia, celebrado a 21 de março, com o belíssimo texto «É isto, a poesia?», da autoria de João Pedro...

21 março 2025

As equipas da LeYa Educação, da Escola Amiga da Criança e da Federação das Associações de Pais do Concelho de Gondomar (FAPAG) estão de...

14 março 2025

Acompanhando o centenário do nascimento do Mestre da guitarra portuguesa, a LeYa/Dom Quixote apresenta o livro O Meu Primeiro Carlos Paredes, de José Jorge Letria (textos) e Helder...